— The time has come and so have I —
Foi dessa forma que Devil May Cry 4 ficou marcado na minha memória,
lembro que meu primeiro contato com o jogo foi num PC modesto com 2
GB de RAM — acredito que DDR2 — uma Nvidia 7300 GT com 512 MB de
Vram. O processador era aqueles Intel Dual Core — uma das primeiras
versões com codinome “E” alguma coisa — nem preciso dizer o
quanto o jogo rodava ruim né, tinha que jogar com tudo no mínimo e
mesmo assim nos cenários da floresta era um pesadelo. Posteriormente
peguei um Xbox 360 e resolvi o problema, mas até lá eu já tinha
finalizado o jogo uma porção de vezes.
DMC4 teve um salto enorme
graficamente comparado ao DMC3, o jogo saiu na mesma época que
grandes jogos estavam fazendo escândalos abusando de gráficos
absurdo, acredito que a geração que mais deve ter marcado as
pessoas foi aquela — com exceção é claro do salto do 2D para o
3D —. Quando os jogos começaram a engrenar na sétima geração
realmente foi um susto, tanto que se pegarmos para olhar os hardware
que foram surgindo em sequência a diferença começa ficar absurda
principalmente para o lado dos PC que é quando a Intel e Nvidia
começam a desenvolver chips cada vez mais poderosos.
Não era apenas os gráficos que
também ficavam mais bonitos os jogos, por exemplo, começaram a
investir pesado aplicando cinemáticas belíssimas diálogos bem mais
trabalhados e em alguns casos jogos inteiros eram focados numa
narrativa que deixava os jogadores perplexos. Devil May Cry nunca foi
para ser um jogo capaz de concorrer a prêmios e se tornar uma
inspiração na indústria como um todo, na verdade ele começou de
forma gloriosa, perdeu um pouco a mão na sequência, estourou no seu
terceiro jogo e no quarto ele fez muito dinheiro. Impressionou em
gráficos e melhorou algumas mecânicas de sua jogabilidade,
basicamente podemos dizer que a franquia é feita para os fãs — e
isso não é uma critica —, porém DMC4 apesar de não ser um
Masterpiece ele introduziu elementos narrativos na cultura do jogo
que só veio a acrescentar para a franquia como um todo.
Nero
Não tem como começar um debate
sobre Devil May Cry 4 sem que o primeiro tópico seja o novo
protagonista da série — tanto que o jogo começa com o garoto
correndo pelas ruas de Fortuna e matando demônios no caminho —. O
que a Capcom queria dizer introduzindo um novo protagonista, mais
jovem e com um potencial latente para futuramente superar o próprio
Dante. Bem a resposta é bem simples e provável que todos já
pensaram nela, mas parecia que a Capcom realmente queria novos ares
para a saga DMC, talvez contar novas histórias e deixar Dante um
pouco de lado e então por isso Nero nasceu. A principal diferença
de Nero para Dante — além é claro do poder — é que o primeiro
tem a personalidade totalmente diferente de Dante, apesar é claro de
fazer piadas com demônios, Nero se demonstra muito mais estressado
que Dante e tanto inexperiente.
Até certo ponto da história tudo
que sabíamos era que o garoto órfão fora criado pela família de
Kyrie e Credo onde ambos posteriormente seguiriam uma espécie de
culto a Sparda chamado de The Order of Sword e seu objetivo era
proteger os cidadãos da ameaça dos demônios. — isso era o que
todos achavam —, no entanto, apesar de Kyrie e Credo se mostrarem
devotos a seita Nero por outro lado não dava a mínima para eles e
parece que só frequentava a mesma por conta dos seus irmãos
adotivos. Uma coisa que Nero diferencia muito de Dante e de qualquer
personagem em DMC é que, pela primeira vez, um personagem contaria
com uma trama romântica. Eu particularmente gosto do enredo de Nero,
acredito que como qualquer jogo DMC não precisa ficar preso apenas
no arroz com feijão e mudar certos conceitos para poder contar uma
história. A jornada romântica de Nero e Kyrie é com certeza uma
referência clara a Sparda e Eve, portanto ver um pouco de romance no
jogo é muito gratificante.
Talvez isso tenha sido um pouco
demais para os fãs que vinham de Devil May Cry 3, ver um
protagonista mais fechado, claramente mais fraco e ainda por cima que
todas suas convicções eram voltadas apenas para proteger sua amada,
pode realmente ter sido frustrante. Muito pouco se sabia a respeito
de Nero, ele possuía um braço demoníaco capaz de roubar
habilidades de demônios com o toque, uma espada com um sistema de
pistões que poderia esquentar a lâmina tornando os ataques mais
rápidos e fortes, um revólver enorme do qual atira duas balas de
uma vez. Bom esse era todo o arsenal disponível para o personagem e
diferente de Dante que após eliminar demônios maiores — chefões
— ganhava uma nova arma, Nero não recebia, apesar que durante o
jogo todos os demônios que Nero enfrentou Dante também, pois Nero
não matava nenhum. Como disse ele era inexperiente e portanto não
sabia que para impedir os demônios tinha que destruir o Hell Gate.
A única habilidade que Nero ganha
realmente útil para a jogabilidade e não só apenas para passar
pelos cenários é a “Devil Trigger” e é então que as coisas
começam a ficar estranhas. Quem viu o garoto pela primeira vez
provavelmente se confundiu, um garoto de cabelos prateados idêntico
a Dante. Quando você chega ao foundry da Ordem da Espada, Nero quase
morre, ali ele misteriosamente conserta a espada Yamato — que até
hoje não teve explicação de como a Ordem conseguiu ela — e então
libera uma espécie de possessão demoníaca graças ao espírito
preso na mesma e a voz que soa no ouvido de Nero após obter o poder
é — I need more power! —. Mesmo Nero ficando extremamente
poderoso com o novo poder ele ainda é incapaz de vencer Dante e
então ambos tem a primeira conversa civilizada, aqui Dante dava uma
pista que praticamente ninguém, ou poucas pessoas pelo menos,
perceberam. Ele diz que a Yamato é importante e que deve permanecer
na família, então Nero retruca dizendo que precisa dela e seu poder
para resgatar Kyrie, então Dante diz fique, mas quero ela de volta
no final de tudo.
O
jovem caçador de demônios parte para buscar sua amada que estava
sendo mantida refém no topo da torre do quartel-general,
por trás dos panos Sanctus prepara uma armadilha para Nero. Após
finalmente alcançar o líder da Ordem da Espada e lutar contra o
mesmo, Nero convicto que vai vencer parte para o ataque final contra
Sanctus que estava iniciando a operação da estátua, obviamente a
batalha entre ambos na verdade não passava de um teste para saber se
Nero realmente tinha poder necessário para manter o núcleo da
estátua.
Usando a Kyrie como colete Sanctus
consegue neutralizar Nero e utiliza ambos para alimentar The Savior,
a princípio
era para Dante ser o núcleo principal da estátua
por ser descendente direto de Sparda, mas aqui novamente os
produtores nos dão uma dica e ninguém percebe de novo. Eles
decidem usar Nero que de algum modo conseguiu restaurar a Yamato
sendo que Agnus já havia tentando de tudo para consertar a espada e
nunca obteve sucesso, por Nero ser mais inexperiente e ter Kyrie como
seu calcanhar de Aquiles nada mais lógico que usar o garoto como
núcleo para o Salvador já que Dante não seria tão fácil
derrotar.
Então a primeira parte do arco de
Nero termina assim, Devil May Cry 4 sofreu de um grande problema de
produção, ao que tudo indica ele seria diferente na segunda metade,
mas por ordens de sabe lá quem esse desenvolvimento acabou sendo
cortado. Por
isso que DMC4 é praticamente um jogo feito pela metade, vamos
conversa sobre isso no próximo tópico.
Problemas de continuação
Como dito no paragrafo acima, Devil
May Cry sofreu com problemas durante sua produção, ao que tudo
indica é que a Capcom não estava gostando da direção que o jogo
estava tomando e então cortou a segunda metade. Como
muito dinheiro já havia sido gasto no jogo e a produção estava
atrasada os desenvolvedores não tiveram alternativa
a não ser repetir a primeira metade do jogo, porém desta vez
jogando com Dante. Vale dizer que isso realmente foi broxante é como
se o jogo tivesse apenas uma metade e depois repetisse tudo, porém
na perspectiva de outro personagem. Com
Dante nós consertamos os erros cometidos por Nero — matamos os
chefões, destruímos os Hell Gates —, além é claro de
enfrentarmos inimigos e cenários mais difíceis do que o primeiro
personagem. A
partir desse ponto a história fica travada e não anda em nada, por
mais que DMC4 seja um jogo bonito e tenha mudado algumas mecânicas
da jogabilidade ele pecou demais no enredo e a Capcom entregou um
jogo pelas metades. — mesmo assim isso não impediu que o jogo
fosse um sucesso —.
Por sorte no futuro tivemos a novel
Deadly Fortuna que veio para corrigir algumas incongruências que o
jogo deixou e também para dar mais riqueza a personalidade dos
personagens. Depois
uma edição especial saiu deixando que os jogadores controlem Lady,
Trish e Vergil. A edição especial trouxe consigo a resposta para
algumas perguntas que poucos fãs fizeram no lançamento de DMC4,
sim, Vergil era realmente, pai de Nero. Na
introdução do personagem da
edição especial podemos ver uma mulher toda coberta olhando para
Vergil, apesar da identidade da mãe de Nero ser um segredo os fãs
acreditam que aquela mulher seja ela.
Fortuna e The Order of Sword
Devil May Cry nunca se importou em
datar sua obra dizer exatamente em qual ano as coisas se passam,
tanto que isso é um ponto bem discutível no universo da série como
um todo. No
anime vemos que as cidades não são tão desenvolvidas
tecnologicamente dando a entender que se passa durante
a Guerra do Vietnã, o
primeiro jogo da série
já tem uma atmosfera pós SGM e
Guerra Fria, enquanto DMC2
parece ser bem mais avançado. Fortuna é ligeiramente uma quebra de
inconsciência já que os habitantes ali parecem viver numa era
medieval, usando roupas de épocas e toda a arquitetura da cidade ser
mais remetente a esse período. A
cidade é daquela forma por conta da Ordem da Espada já que Sparda
teria vivido na cidade no período feudal e servido aos feudos
adquirindo respeito e admiração, tanto que eles o louvam como um
deus, e por esse motivo a cidade tenha se separado do estado e
permaneceu presa naquele período especifico devido a grande
influência
que a Ordem da Espada.
Não só Sparda, mas Vergil também
esteve na cidade, é claro que muitos anos depois e também muitos
anos antes de Nero nascer. Na
novel Deadly Fortuna Vergil encontra Sanctus e ambos tem uma
conversa. Apesar
de ninguém saber nada sobre a mãe de Nero, ela é descrita de forma
pejorativa como uma puta ou coisa do tipo. Quando
Agnus contou a Sanctus sobre Nero, naquele momento ele,
com certeza, ligou os pontos e
provavelmente era o único ali que de fato sabia a verdade sobre os
pais de Nero até por isso decidiu usar o garoto na ativação do
Savior.
A cidade de Fortuna é muito bonita,
por ser construída numa ilha separada do restante da civilização e
por esbanjar de arquitetura renascentista (principalmente a barroca e
gótica) ela consegue passar um visual lindo para o jogo sendo um dos
pontos principais de destaque do mesmo. Devil May Cry sempre teve uma
influência gótica como background de todos os seus jogos e isso
explica também todos os cenários do
jogo, pois todos são em ilhas (com exceção do 3) com castelos,
fortalezas e edificações que usam formas elevadas e curvas
acentuadas deixando bem evidente de que ponto específico
a referência
se trata.
Diferente dos outros Devil May Cry o
quarto jogo não mantém uma atmosfera tão sombria quanto seus
antecessores, o fato talvez de estar na cidade durante o dia pode
eliminar esse aspecto um pouco, mas o único momento ali que podemos
ver uma ambientação semelhante
à do primeiro jogo é dentro
do Castelo Fortuna. — é engraçado dizer isso, pois no jogo Nero
ganha poder para
movimentar certos objetos inanimados dando aquele aspecto de castelo
mal assombrado —, mas logo em seguida entramos numa floresta e todo
aquele aspecto Dark é perdido.
Shall Never Surrender
Em vez de
dedicar um tópico exclusivo para a trilha sonora do jogo eu quero
dedicar apenas para a música tema do mesmo. Aqui
temos um contraste onde praticamente define todo o enredo, na
primeira parte ela é mais agitada e com instrumental mais rápido e
pesado — tanto que essa parte é usada para o tema de batalha de
Nero — já sua sequência ela é extremamente melódica com
instrumental mais lento e também refrões dando uma acentuação na
voz masculina e feminina alternando nos versos. — lembrando muito
Devils Never Cry — e isso vai de encontro total de como o enredo de
Devil May Cry 4 é trabalhado. Apesar
de toda a trama por trás o jogo foca em mostrar Nero lutando contra
sua aparência demoníaca, mas que não hesita em abraçá-la
se for para salvar a mulher que ama. Isso
é muito gratificante de se ver, pois remete muito a escolha de
Sparda em abraçar a humanidade, gostaria muito de ver uma novel ou
até mesmo animação onde fosse contado a história de Sparda, como
ele derrotou todos os demônios, seu amor por Eve e o que fez após
isso.
Não
digo ver um jogo disso, pois acredito que Devil May Cry deve por um
fim nessa saga de Sparda e começar a contar outras histórias assim
como a animação fez. Uma coisa que o jogo deixa subentendido é que
os humanos possuem um poder que pode até mesmo superar os demônios,
Dante diz isso para Vergil em DMC3, ele volta a dizer o mesmo em DMC4
após lutar contra Agnus. Em
entrevista Hideki Itsuno revelou que, no universo de Devil May Cry
demônios são seres de trevas e os humanos seres de luz sendo assim
concluindo o balanço do universo. Então o que seria esse poder que
os humanos possuem capaz de superar os demônios?
Anteriormente acreditava ser a
alma, mas como vimos em DMC4 demônios também possuem almas, tanto
que Agnus diz que para criar os Bianco Angelo era necessário uma
porção de almas demoníacas. Acredito
também que a alma não seja a resposta correta e sim o caminho para
ela, por exemplo, Arkham para se converter num demônio teve que
matar a sua própria esposa, provavelmente usar ela como sacrifício
para algum tipo de ritual. Em
algumas literaturas — acredito que até mesmo no Budismo — a
violência do assassinato corrompe a alma a ponto do indivíduo
abandonar sua humanidade.
Então o que difere uma alma humana
para uma alma demoníaca? Talvez
sejam as emoções, então pelos humanos serem seres de luz eles
tenham emoções que diferente dos demônios lhe permitem escolher
seu próprio caminho fazendo que elas alterem até mesmo que por
instantes a química do corpo humano. Então
quando vemos humanos que possuem DNA de demônios eles são
incrivelmente poderosos, pois essas mudanças que as emoções podem
causar no corpo humano, seja incrivelmente aumentada por conta do DNA
demoníaco. Por isso que apesar de existir muitas teorias sobre a
identidade da mãe de Nero — muitos até especulam que ela seja um
anjo — acredito
que ela era apenas uma humana qualquer. O
fato de Nero ter muito da alma humana e só uma pequena fração de
poder demoníaco faça que esses aprimoramentos sejam ainda mais
extremos.
É claro que isso aqui nada mais é
que minha visão da coisa toda poderíamos até brincar aqui
introduzindo um pouco de alquimia, mas preste bem atenção nos jogos
da série e você vera que os personagens se tornam mais fortes
quando passam por estresse emocional: Nero, Vergil e Dante tem
históricos desses eventos e quando for falar de DMC5 eu comento mais
a respeito disso.
Considerações finais
Essa
talvez tenha
sido a maior resenha sobre os jogos da franquia e é claro que se
fosse comentar cada aspecto do jogo ela teria o dobro de tamanho,
talvez o triplo. A respeito de
anjos em Devil May Cry já que
o 4 foi o que mais fez referência a existência deles, a novel de
DMC3 já explicou o que são os “Anjos”. — Arkham conversa com
Vergil a respeito disso em Temen-ni-gru — a explicação é a
seguinte: Demônios já foram anjos uma vez, mas
na verdade trata-se
de uma classe hierárquica acima das classes
comuns de demônios que temos em DMC. Geralmente
demônios dessa classe hierárquica mais alta são seres extremamente
bonitos e que muita das vezes possuem asas brancas dando lhe essa
aparência celestial. Mundus era dessa classe de demônios que na
verdade são Anjos e acredita-se que é a classe mais poderosa de
demônios que existe. No
próprio jogo Devil May Cry 3 temos o Fallen que na verdade é um ser
com uma asa branca, porém ele esconde a deformação do seu rosto e
corpo com uma delas, então a confusão toda começa, pois Anjos
existem, porém eles são demônios só que de uma classe bem elevada
e muito mais poderosa. A
Ordem da Espada não se consideram demônios e sim anjos que vão
salvar o mundo e coisa do tipo. Agora qualquer outra especulação
vou deixar para comentar num artigo separado que vai sair após a
análise dos
outros materiais da saga, vai ser uma espécie de bônus que vou ali
reunir o máximo de informação que temos até então sobre o
universo Devil May Cry.